segunda-feira, 30 de abril de 2012


O último livro que li foi ´´A Rainha da Babilónia´´ escrito por Esther de Lemos que tem seis histórias. Eu gostei mais da terceira que é ´´ As meninas e o Sol.´´ Nesta história as meninas estavam na praia a falar sobre o Sol e de repente ele veio ter com elas e levou-as a dar um passeio num carro voador para lhes mostrar como ele era fantástico. A história acaba com o Sol a pôr-se. Eu gostei muito deste livro.
Cátia Marisa de Sousa Ferreira 5º A

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Ainda a propósito de Torga

E assim desfilam, perante os nossos olhos, seres humanos para quem as nossas dúvidas, as nossas angústias, as nossas certezas e convicções, o nosso conceito de honradez, a nossa ideia de direito, de justiça, e de tantas outras questões que só aos humanos perturbam, são o pão-nosso de cada dia, e não nos sentimos tão sós.
 Fica-me uma imensa pena, de, por falta de espaço e de tempo, não poder referir-me a cada um deles detalhadamente, e mostrar aqui, o que eu vejo em cada um de belo (na sua quase perfeição, quase imperfeição de deuses terrenos). Que pena tenho de não poder mostrar o quanto me impressiona a grandiosidade da figura da Maria Lionça, que escolheu sempre o outro para servir serenamente, sem queixas nem revolta; da Mariana, que inocentemente viveu a vida, de forma espontânea, límpida, transparente, alheia a segundas intenções, indiferente ao interesse humano, como uma verdadeira e autêntica força da natureza; do caçador, a quem só a velhice, por vir acompanhada de fraqueza roubou a inocência e consequentemente a alegria espontânea de viver; do povo de Saudel, que à força de ser paternalizado, infantilizado, deixou, como as crianças, de ser capaz de distinguir realidade de ficção; e de tantos, tantos outros que me servem de referência vezes sem conta!

A mim, que leio por prazer, por necessidade imperiosa, por impulso incontido, por uma mão cheia de razões, a mim que não sei quem sou, que me procuro nos textos, que como Fernando Pessoa (salvas as devidas distâncias) também sou " um espalhamento de cacos ", que busco nos textos respostas para as minhas inúmeras perguntas, solução para dilemas sem solução, companhia, consolo, justificação para um sem número de incapacidades, que busco, enfim, a felicidade que não existe senão em sonho, Miguel Torga, a quem eu muito devo, oferece-me um pouco de tudo: Companhia, (fazendo sentir ridícula e mesquinha a minha solidão ao lado das suas personagens " que se purificam com sofrimento universal num purgatório de chamas transmontanas "), consolo, porque também eu que, nas palavras de Fernando Pessoa, sinto que" Venho de longe e trago no perfil, / Em forma nevoenta e afastada, / O perfil de outro ser que desagrada/ Ao meu actual recorte humano e vil." E que por isso " trago às costas esta maldição/ De sofrer com razão ou sem razão / E de não ter alívio nas lágrimas que choro!" e Miguel Torga ajuda a atenuar a minha culpa ao redimir todos os homens, fazendo-me crer que " assim vivo infeliz. / Desesperado só por ser humano, / E humano sem saber, como é que fiz."), Afinal, " Todo de carne e osso, / como posso/ transfigurar-me?"
Assim, não como " Leitor do pitoresco ou do estranho, mas como sensível criatura tocada pela magia da arte e chamada pelos imperativos da vida " hoje regalo-me com os seus textos, amanhã comovo-me, depois cismo, e fico dias e dias ensimesmada, responsável pela " salvação da casa que, por arder, [me] [...] deslumbra os sentidos", e ganho força redobrada para " cortar as ondas sem desanimar" apesar de " A revolta imensidão / transforma [r] dia a dia a embarcação numa errante e alada sepultura...", porque " A honra é lutar sem esperança de vencer". E ganho coragem para continuar a não "contornar" o " muro" nem tentar" ultrapassá-lo de qualquer maneira", porque, nesta medida também toda a sua obra é exemplar.

REPOUSO

Esperança  também tão comoventemente exposta no conto " Repouso" onde o Joaquim Lomba que " quase não trabalhava" porque "ninguém o queria, nem a dias nem de empreitada." e que levava " uma existência negra[...]sozinho, sujo, coberto da sombra do medo e da desconfiança dalgumas léguas em redor"e " trazia estampada no rosto a ferocidade" que fazia correr " por todos um calafrio de pavor" , mas a quem " Mazombo, ensimesmado, a marca que sentia na cara dava [...] uma tristeza funda, de revolta esganada.” E em quem " Em certas horas, uma humanidade estuante, larga, generosa, que também nele morava, queria mostrar-se à luz do sol", sem que contudo lhe fosse dada qualquer oportunidade, pois " o primeiro a quem dava os bons dias cortava-lhe aquela onda fraternal em bocados"( como a fronteira entre a virtude e o defeito é afinal ténue!) e há aqui como que uma  génese do ódio, da raiva, naqueles a quem por vezes não resta  alternativa ao " vazio, um desespero sem remédio, um abandono maior do que o das pedras, prefigura[ndo-lhe][...] o inferno" . E também este é salvo pela corajosa inocência, pela bondade primordial representada pelo " garoto" "com nove anos " que defendia com "decisão" a sua " quimera" a cuja coragem o Joaquim Lomba se rendeu " comovido" murmurando " Chegou para mim" , contente por ser finalmente tratado como um igual...

Fronteira

Fronteira

A questão do dever e da fidelidade a princípios que , também de forma simplicíssima, é abordada em " Fronteira" onde o Robalo,  um" rapaz[ ...] do Minho , acostumado ao positivismo da sua terra" ,uma personagem que tão bem representa o  chamado " universal singular" , (o quase chavão usado a propósito de Miguel Torga que toda a gente, mesmo quem nunca leu uma linha sua, conhece), fica estupefacto porque a idiossincrasia de uma aldeia inteira entra em total contradição com a sua própria forma de estar e de pensar, herança  de tempos imemoriais, e que ele, por uma questão de princípio,  decide impor aos demais porque  " só ele marcha bem" . Por isso," Pelo ribeiro fora parecia um cão a guardar"e aqui, como no mundo do nosso dia a dia,quaisquer meios pareciam justificar os fins " Em quinze dias foram dois tiros no peito do Fagundes, um par de coronhadas no Albino, e ao Gaspar teve-o mesmo por um triz[...] a bala passou-lhe a menos de meio palmo das fontes." ( a paz  de todos, das sociedades, - ou de quem manda nas sociedades? - a justificar os crimes , as guerras..e lembro que este conto foi escrito e publicado em plena vigência do regime fascista!), e uma vez mais aqui Miguel Torga concede a salvação ao homem que vive na " fronteira" entre a civilização e a barbárie dando à civilização a vitória " porque o coração dos homens, por mais duro que seja, tem sempre um ponto fraco por onde lhe entra a ternura"

O Alma Grande visto por José Pedro teixeira

O Alma Grande

Aos leitores mais severos, aos que buscam na leitura a Verdade, os fundamentos do universo, as razões para o sofrimento, ou eco do seu próprio sofrimento, aos leitores com pretensões mais filosóficas que buscam, quiçá, Deus, a quem interessam textos profundos, complexos, que exijam reflexão, por vezes até, um certo compromisso, também Miguel Torga   chama  para o círculo dos seus fiéis seguidores .
 Por toda a sua obra poética, nos seus " Diários",( onde o " Poeta , prosador" encontra " descanso[ para] as [suas] [...] angústias" " na letra redonda") ou  nos seus contos, sob a aparência de histórias simples, que qualquer criança pode compreender, perpassam perfeitos tratados de cariz filosófico que nos despertam a consciência para questões profundas, como a da eutanásia, por exemplo, que , de forma arrepiante , nos é apresentada n' "O Alma Grande", aquele " pai da morte" " Alto, mal encarado, de nariz adunco"com " cara seca [de] [...] abafador " que " passava guia ao moribundo" com " a tenaz das suas mãos e o peso do seu joelho"." impávido e silencioso" ( sinistro!) e que " Saía com uma paz no rosto[...] igual à que tinha deixado ao morto." Ou a questão do dever( que tanto me atormenta!) e da fidelidade a princípios ( quais princípios? Como estabelecer uma hierarquia de importâncias? Quem escolher? - O indivíduo ou a sociedade? ...)( a velhíssima questão tão bem abordada por Shakespeare)

Pintura de Amanda Greavette

Madalena

Quem não compreende e não se comove até às lágrimas com o drama vivido por Madalena? - Essa personagem,  como tantas outras em Miguel Torga, cuja grandeza consiste em, nas palavras de Milan Kundera,  "carrega[r] [admiravelmente] com o seu destino como Atlas carregava aos ombros a abóbada dos céus". Essa personagem indefesa, qual gazela, vítima do frio e interesseiro predador indiferente ao seu sofrimento. E quem não conhece esta natureza, toda ela feita de predadores e de vítimas, representada de forma inteira por Miguel Torga, com as suas forças benignas tão caras aos seres humanos, e com as suas forças malignas tão incompreensíveis, por vezes, tão injustificadas? -Esta natureza de que Madalena é parte integrante , com a qual ainda não rompeu laços, porque se encontra ainda no mais perfeito estado de inocência, que lhe serve de única companhia e testemunha da sua grandeza interior,( no fim afinal não somos só nós e o universo infindo?... ), e que com ela resiste estoicamente aos golpes fatais do destino que lhe coube em sorte, é apresentada  em perfeita sintonia com o seu sofrimento para que se não  sinta tão negligenciada! Por isso, enquanto ela sofria violentamente com as " guinadas" provocadas pelas dores do parto e com a sede insuportável que o esforço desumano lhe causava "As urzes torciam-se [com ela] à beira do caminho, [ como ela] estorricadas" .Em simultâneo, sem dar tréguas ,(como a própria vida), paralelamente, implacável, " Queimava. O sol amarelo..." " Parecia que o saibro duro do chão lançava baforadas de lume".

 Não faltava, a este quadro de forças antagónicas, neste mundo onde tudo acontece ao mesmo tempo, inexoravelmente, o lado mesquinho, obscuro, da natureza (também humana), do carrasco, muitas vezes nascido da fraqueza da vítima , (tipo humano muito querido do autor e tão generosamente apresentado n' O leproso), representado por " uma giesta miudinha,  negra, torrada do calor [ que] cobria de tristeza rasteira o descampado" ( votado à mais absoluta solidão!)

Também não faltava o seu lado arbitrário, simplesmente traidor e frio, de serpente despeitada por ter nascido para rastejar, e " Debaixo dos pés o cascalho soltava risadas escarninhas". E assim, " Ao tormento do cansaço e à crueldade das guinadas traiçoeiras que a anavalhavam quando menos esperava, juntara-se uma sede funda, grossa, que a reduzia inteira a uma fornalha de lume". Aos outros leitores, também hedonistas, que procuram no texto a fruição, um tipo de prazer menos imediato, mais profundo, que procuram a beleza da forma, a riqueza das imagens, a harmonia das frases, a melodia das palavras, Miguel Torga agrada inequivocamente, pois " deslumbra-lhes os sentidos" como também era sua pretensão, através de imagens belas, onde todos os cinco sentidos são estimulados de forma  impressionante.

Escolhi, este, poderia ter escolhido muitos outros para ilustrar um dos quadros de natureza existencial que nos é magistralmente pintado por Miguel Torga. Nele, a solidão humana parece gritar-nos que " A vida humana começa do outro lado do desespero", para que tomemos consciência de que "estamos absolutamente por nossa conta, [de que] temos liberdade total para escolher a nossa vida em cada momento, (estará o autor também certo de "que somos finitos e nada nos espera no fim da linha"?) O que parece , sem dúvida,  certo é de que " é deste mesmo desespero que partimos para sermos livres e responsáveis pelas nossas escolhas e pela nossa vida".

Miguel Torga

Sobre a escrita de Miguel Torga

A obra de Miguel Torga não se trata, de facto, de “ uma mera celebração literária para iniciados, mas de um sincero esforço de comunhão universal.”

Depois de lido e relido, nas linhas e entrelinhas fica claramente provada uma das teorias em que gostava de acreditar de que “ a arte [deve ser - e a sua é-o -] o mais pura possível nos meios e o mais larga possível nos fins”.

Parto do pressuposto de que há diferentes tipos de leitor, a quem correspondem diferentes propósitos de leitura, e de que há leitores hedonistas a quem satisfazem textos simples, fáceis, desprovidos de artifícios, cujo conteúdo possa ser “ digerido” sem esforço, aos quais os textos de Miguel Torga parecem, por vezes, de forma enganosa, dirigir-se, exclusivamente, tal a aparente simplicidade que revelam.

É evidente que Miguel Torga – Contador de Histórias proporcionará momentos de prazer, eventualmente, comoção, a muitos desses leitores, porém, a esta simplicidade transparente, aparentemente superficial, da forma, que parece dizer tudo nas linhas e nada ter para transmitir nas entrelinhas, corresponde uma grande complexidade de sentidos. Socorrendo-me das palavras de Siza Vieira, que parece ter conquistado, na arquitectura, essa capacidade de tornar simplicíssimo na aparência, o que é extremamente complexo na essência, “ A naturalidade, a simplicidade, é uma conquista muito difícil e muito laboriosa…”.

Penso que o segredo do sucesso da obra de arte, estando na conjugação perfeita de vários factores, é certo, está, essencialmente, no facto de o artista ter conseguido exprimir da forma mais simples as ideias mais profundas. De " criar uma supra-realidade da realidade, onde todos os homens se encontrem, quer sejam intelectuais, quer não..." e este, que era afinal o seu intento, foi plenamente conseguido por Miguel Torga: - Serve-se, de forma exímia, do vocabulário diariamente usado pelos seu vizinhos iletrados, em articulação perfeita com recursos linguísticos sofisticadíssimos. Parecendo falar simplesmente a língua daqueles, combina-a na perfeição com a elegância artística da linguagem mais sofisticada. Faz uma selecção, de tal maneira cuidada, de expressões diaria, e distraidamente usadas pelo seu povo, que o resultado é da mais surpreendente espontaneidade - o seu espírito sensível e educado cria  autênticas pérolas de uma beleza extraordinária.

O Percurso do Primeiro Romance

O Percurso do Primeiro Romance

“ O percurso do Primeiro Romance” , assim se chama o livro de Jean Michel Barrault, que decidi ler porque o título me induziu em erro, serviu, entre outras coisas, para trazer ao consciente uma noção que já existia no meu subconsciente. Sempre tive uma enorme relutância em ler o que os livreiros expõem em primeiro plano, os livros da moda, aqueles que estão na boca de todo o mundo, que são mencionados por jornais e revistas, e cheguei a pensar que era pura mania minha.

A minha desconfiança relativamente à publicidade é tal, que sempre me afastei dos livros que ocupam demasiado espaço em lugares de destaque de demasiados espaços comerciais (só fui abrindo excepção para autores cuja qualidade reconheço porque conheço a sua obra). Daí este meu gosto pela troca de impressões: o maior estímulo que alguma vez tive para efectuar qualquer das minhas leituras, foi sempre a opinião ou o entusiasmo de alguém em cujo gosto confio mais do que no colorido de capas e escaparates.

Como dizia, este livro, cuja estrutura e estilo são, para mim, completamente novos, agradou-me bastante pela sua originalidade e pelo realismo do seu conteúdo, que numa linguagem por vezes muito elegante, outras muito precisa, quase sempre de uma ironia finíssima, expõe, inteligentemente, de forma romanceada, a hipocrisia em que está , actualmente, mergulhado o mundo da literatura; o mundo dos prémios e honrarias; o modo como são forjados alguns best-sellers; as circunstâncias em que alguns escritores são guindados à categoria de estrelas, ao passo que outros são absolutamente ignorados (não tendo esta eleição por base a qualidade dos seus escritos); o modo como funcionam os meandros da crítica literária (os clientelismos, as capelinhas mais ou menos influentes), os lobbies das editoras; o modo despudorado como os livreiros nos conduzem as leituras “ obrigando-nos” a consumir determinadas obras…Enfim , também a arte a sofrer do mal dos tempos, deste mundo economicista e interesseiro em que vivemos e o risco que o artista corre de se tornar um mercenário se se deixar “ seduzir pela palha dos estábulos dourados do mundo” e se não for “ afastando com jeito ou força, todos os obstáculos que se levantam( por exemplo , o [seu] sentido de apetência do cómodo” como tão bem disse Agostinho da Silva.

Mesmo considerando que é um livro muito situado no tempo, que será provavelmente esquecido para sempre dentro de alguns anos, penso que contém , mesmo assim , algumas questões intemporais (o romance  fala de si próprio, o escritor  fala do escritor, a própria linguagem  fala da linguagem, o criador  fala da criação). Gostei imenso!

Operário ´/Vinicius


O Operário em Construção por Mário Viegas

http://www.youtube.com/watch?v=GalQEYKriHU


Poema de Vivnicius de Moraes

Bertolt Brecht

Bertolt Brecht

Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Líder ?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.


Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Líder.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.


Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?

Paul Gauguin

Obra de arte

“(…)uma obra de arte produz em nós aquela peculiar euforia, essencial à experiência estética (…) descortinamos na sua fecundidade a miragem de uma vida mais ampla, uma promessa não concretizada de felicidade”

MARINA, José António, teoria da Inteligência Criadora

A Geração de Setenta

No século XIX era assim...

“Se alguma hora da história impôs aos que falam alto entre os povos obrigações de seriedade, de profunda abnegação, de sacrifício do eu às tristezas e misérias da humanidade, de trabalho e silencioso pensamento (…) é o nosso século. Refundem-se as  crenças antigas. Geram-se com esforço novas ideias. Desmoronam-se as velhas religiões. As instituições do passado abatem-se. O futuro não aparece ainda (…) há toda uma humanidade em dissolução, de que é preciso construir uma humanidade viva, sã, crente e formosa. Mas de onde sairiam os grandes homens para este grande trabalho? Das academias? Das arcádias? Das sinecuras opulentas? Dos chorrilhos de elogio mútuo? Sairiam as águias das capoeiras?

“Quisera só defender a liberdade e a dignidade de pensamento (…) Nunca literatura alguma teve a obrigação de ser elevada, grave, séria, desambiciosa, como a literatura deste povo decadente…”

CIDADE, Hernâni,  Antero de Quental, a questão coimbrã

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Obesidade mental

A Oesidade Mental




A Obesidade Mental - Andrew Oitke

 

Por João César das Neves - 26 de Fev 2010


O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna. «Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.» Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.. Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e
comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.» O problema central está na família e na escola. «Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate.
Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.» Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma: «O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.» O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. «Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.» Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura «O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto». As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. «Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da
civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.»



CAMÕES

Silêncio

Silêncio

Silêncio

"Todo o silêncio é música em estado de gravidez"


COUTO, Mia

Todos diferentes, todos iguais




Racismo

"Ninguém é de uma raça (...) .As raças são fardas que vestimos(...) mas eu aprendi(...) que essa farda se cola, às vezes, à alma dos homens"


COUTO, MIA, Jesusalém