quinta-feira, 28 de maio de 2015

Por este andar, um dia compraremos ar

The white man knows how to make everything, but he does not know how to distribute it.
Sitting Bull*
If we do not own the freshness of the air and the sparkle of the water, how can you buy them? Every part of this earth is sacred to my people.
Chief Seattle*
Sou uma optimista inveterada- acredito que a humanidade sempre caminhou para a frente e para melhor, e que esta continua a ser uma verdade incontestável. No entanto, também sou realista e pragmática e conheço a tentação totalitária do homem-predador-do-homem, que tem, hoje, à sua disposição, mecanismos de poder sofisticadíssimos, nunca, dantes, existentes. Por isso, sei que, à velocidade a que a vida se processa nos nossos dias, tendo em conta as dependências a que o homem se deixou entregar, e, pior de tudo, tendo em conta os oceanos de informação que desmobilizam qualquer oportunidade de formação, não tarda, acordaremos com mais uma obrigatoriedade à qual não conseguiremos escapar, como as já dezenas delas, a acrescer ao nosso penoso “secretariado da existência”.
-“A partir de hoje, todos os cidadãos deverão pagar diariamente o ar que respiram!” será o teor da nota que nos será enviada pelas autoridades em nome dos cidadãos Alfa-mais-mais, se, entretanto, desistirmos, definitivamente, do mais importante dever de entre os nossos deveres de cidadania: o de estar atentos a esses predadores, saber que o mal é muito mais persistente do que o bem, e ser tão persistentes na luta contra ele, que não fique espaço para que ele vença. Sempre assim foi e sempre assim será. Esta é a natureza humana, que não modificaremos, mas podemos controlar.
Em pouquíssimo tempo (não me considero muito velha, e lembro-me muito bem) a água passou de límpida, transparente, cristalina, livre, corredia e cantante, a um líquido viscoso, escuro, muitas vezes mal cheiroso, aprisionada, pela ganância do homem-predador-do-homem, em lodaçais inquinados, pestilentos, insalubres. Daqui, transitou, por necessidade, para prisões canalizadas para ser tratada e devolvida à mãe terra sua dona e senhora, sem custos para os seus habitantes. Pouco tempo depois, o homem-predador-do-homem descobriu que poderia ter ali, à mão de semear, uma fonte de rendimento sem necessidade de esforço. Não tardou que todos nos víssemos obrigados, da noite para o dia, a pagar a água de que é feito 75% do nosso corpo. E nós achámos normal. Com a cabeça atulhada de desinformação, facilmente nos encaminharam, dóceis como nos tornámos, para os milhões de toneladas de plásticos descartáveis que estão a co-asfixiar o globo, que é nosso e de todos aqueles que se acumulam em volta de um poço moribundo, em outro lado do planeta.
Neste nosso admirável mundo novo onde impera o reflexo condicionado de há muito conhecido nos cães (de Pavlov), todos, aterrorizados com vírus, bactérias, fungos e outros sustos capazes de provocar suores nocturnos, fomos, docilmente, substituindo a água da torneira, entretanto obrigatoriamente tratada, por leis feitas por homens bons, por água rigorosamente igual, por vezes de inferior qualidade, engarrafada e paga a peso de ouro!
O negócio da china inicial progrediu para um negócio verdadeiramente imperial.
O homem-predador-do-homem, como é sabido, com instrumentos de domínio cada vez mais subtis e sofisticados, sabe, exactamente, o que é preciso fazer para se apossar desse tesouro sem preço, como o ar que respiramos e o sangue que nos corre nas veias.
Não é de estranhar que por detrás desta pretensão monstruosa estejam candidatos já antes encontrados por detrás de outras pretensões monstruosas: daqueles que têm lucros monstruosos quando todos os outros sofrem perdas brutais. Os monstros sem rosto e sem corpo que comandam, hoje, as nossas vidas, do espaço ou de um lugar tão recôndito que é inacessível ao comum dos mortais, ou então que se move, disfarçado de homem bom entre os outros homens.


·        Famosos chefes índios da história da conquista do Oeste pelos Americanos

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