[ o homem massa] Está satisfeito tal como é. Ingenuamente, sem necessidade de ser vão, como a coisa mais natural do mundo, tenderá a afirmar e a dar como bom o que encontra em si: opiniões, apetites, preferências ou gostos. Porque não se(...) nada nem ninguém o obriga a dar-se conta de que ele é um homem de segunda classe, limitadíssimo, incapaz de criar e até de conservar a própria organização que dá à sua vida essa amplitude e contentamento em que funda tal afirmação da sua pessoa?
Nunca o homem-massa teria apelado a nada fora de si se a circunstância não o tivesse obrigado violentamente a isso.
(...) Pelo contrário,o homem selecto ou excelente está constituído por uma necessidade íntima de apelar de si mesmo a uma norma para além dele, superior a ele, a cujo serviço se coloca livremente. (...) Contra o que se costuma pensar, é a criatura de selecção, e não a massa, a que vive em servidão essencial. Para ele a vida não tem sabor se não a fizer consistir num serviço a algo transcendente. Por isso não considera uma opressão a necessidade de servir.(...)
O direito impessoal tem-se e o pessoal sustém-se. (...) O simples processo de manter a civilização actual é superlativamente complexo e requer subtilezas incalculáveis. Mal pode governá-lo este homem médio que aprendeu a usar muitos aparelhos de civilização, mas que se caracteriza por ignorar de raiz os próprios princípios da civilização. (...) a indocilidade política não seria grave se não proviesse duma indocilidade intelectual e moral mais profunda e decisiva."
Ortega y Gasstet
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