terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Tanto de meu estado me acho incerto





Tanto de meu estado me acho incerto,

Que em vivo ardor tremendo estou de frio;

Sem causa, juntamente choro e rio;

O mundo todo abarco e nada aperto.



É tudo quanto sinto um desconcerto;

Da alma um fogo me sai, da vista um rio;

Agora espero, agora desconfio,

Agora desvario, agora acerto.



Estando em terra, chego ao Céu voando;

Nu~a hora acho mil anos, e é de jeito

Que em mil anos não posso achar u~a hora.



Se me pergunta alguém porque assim ando,

Respondo que não sei; porém suspeito

Que só porque vos vi, minha Senhora.



Luís de Camões

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