Espaço interactivo por excelência, acessível a qualquer hora do dia, em qualquer parte do mundo, ideal para partilhar connosco experiências e opiniões literárias, artísticas ou científicas; saberes em vias de extinção; aventuras reais ou espirituais emocionantes... Estamos sempre aqui, para o ler e partilhar consigo as nossas opiniões e aptidões. Aqui podemos crescer juntos. Que me diz?
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Fevereiro
Água de Fevereiro, mata o Onzeneiro.
Ao Fevereiro e ao rapaz, perdoa tudo quanto faz.
Aproveite Fevereiro quem folgou em Janeiro.
Em Fevereiro, chega-te ao lameiro.
Em Fevereiro, chuva; em Agosto, uva.
Fevereiro é dia, e logo é Santa Luzia.
Fevereiro enxuto, rói mais pão do que quantos ratos há no mundo.
Fevereiro quente, traz o diabo no ventre.
Fevereiro recouveiro, afaz a perdiz ao poleiro.
Janeiro geoso e Fevereiro chuvoso fazem o ano formoso.
Neve em Fevereiro, presságio de mau celeiro.
O tempo em Fevereiro enganou a Mãe ao soalheiro.
Para parte de Fevereiro, guarda lenha de Quinteiro.
Quando não chove em Fevereiro, nem prados nem centeio.
Tantos dias de geada terá Maio, quantos de nevoeiro teve Fevereiro.
Ao Fevereiro e ao rapaz, perdoa tudo quanto faz.
Aproveite Fevereiro quem folgou em Janeiro.
Em Fevereiro, chega-te ao lameiro.
Em Fevereiro, chuva; em Agosto, uva.
Fevereiro é dia, e logo é Santa Luzia.
Fevereiro enxuto, rói mais pão do que quantos ratos há no mundo.
Fevereiro quente, traz o diabo no ventre.
Fevereiro recouveiro, afaz a perdiz ao poleiro.
Janeiro geoso e Fevereiro chuvoso fazem o ano formoso.
Neve em Fevereiro, presságio de mau celeiro.
O tempo em Fevereiro enganou a Mãe ao soalheiro.
Para parte de Fevereiro, guarda lenha de Quinteiro.
Quando não chove em Fevereiro, nem prados nem centeio.
Tantos dias de geada terá Maio, quantos de nevoeiro teve Fevereiro.
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Provérbios e ditos populares
O Percurso do Primeiro Romance
Marco de Canaveses, 2005-06-08
Ávida de obras-primas, não consigo deixar de olhar, por vezes com algum desdém, os livros que não encaixam no meu próprio conceito de obra-prima, ainda que a sua leitura me tenha proporcionado momentos de prazer, e por vezes tenho alguma relutância em dar-lhes qualquer relevância falando delas.
É este o caso do último livro que li , ao contrário do habitual, sem interrupção, sem o alternar com outras leituras como habitualmente faço, e de que gostei particularmente, já que com ele aprendi alguma coisa.
“ O percurso do Primeiro Romance” , assim se chama o livro de Jean Michel Barrault, que decidi ler porque o título me induziu em erro, serviu, entre outras coisas, para trazer ao consciente uma noção que já existia no meu subconsciente. Sempre tive uma enorme relutância em ler o que os livreiros expõem em primeiro plano, os livros da moda, aqueles que estão na boca de todo o mundo, que são mencionados por jornais e revistas, e cheguei a pensar que era pura mania minha. Confesso até, que este quase preconceito é responsável por eu não ter lido, ainda, qualquer livro do Miguel Sousa Tavares, (a não ser um infantil que ofereceram ao meu filho) ou da Isabel Allende…
A minha desconfiança relativamente à publicidade é tal, que sempre me afastei dos livros que ocupam demasiado espaço em lugares de destaque de demasiados espaços comerciais (só fui abrindo excepção para autores cuja qualidade reconheço porque conheço a sua obra). Daí este meu gosto pela troca de impressões. O maior estímulo que alguma vez tive para efectuar qualquer das minhas leituras, foi sempre a opinião ou o entusiasmo de alguém em cujo gosto confio mais do que no colorido de capas e escaparates.
Como dizia, este livro, cuja estrutura e estilo são, para mim, completamente novos, agradou-me bastante pela sua originalidade e pelo realismo do seu conteúdo, que numa linguagem por vezes muito elegante, outras muito precisa, quase sempre de uma ironia finíssima, expõe, inteligentemente, de forma romanceada, a hipocrisia em que está, actualmente, mergulhado o mundo da literatura; o mundo dos prémios e honrarias; os modos como são forjados alguns best-sellers; as circunstâncias em que alguns escritores são guindados à categoria de estrelas, ao passo que outros são absolutamente ignorados (não tendo esta eleição por base a qualidade dos seus escritos); o modo como funciona os meandros da crítica literária (os clientelismos, as capelinhas mais ou menos influentes), os lobbies das editoras; o modo despudorado como os livreiros nos conduzem as leituras “ obrigando-nos” a consumir determinadas obras…Enfim, também a arte a sofrer do mal dos tempos, deste mundo economicista e interesseiro em que vivemos e o risco que o artista corre de se tornar um mercenário se se deixar “ seduzir pela palha dos estábulos dourados do mundo” e se não for “ afastando com jeito ou força, todos os obstáculos que se levantam (por exemplo, o [seu] sentido de apetência do cómodo” como tão bem disse Agostinho da Silva.
Mesmo considerando que é um livro muito situado no tempo, que será provavelmente esquecido para sempre dentro de alguns anos, penso que contém, mesmo assim, algumas questões intemporais (o romance fala de si próprio, o escritor fala do escritor, a própria linguagem fala da linguagem, o criador fala da criação). Gostei imenso!
Ávida de obras-primas, não consigo deixar de olhar, por vezes com algum desdém, os livros que não encaixam no meu próprio conceito de obra-prima, ainda que a sua leitura me tenha proporcionado momentos de prazer, e por vezes tenho alguma relutância em dar-lhes qualquer relevância falando delas.
É este o caso do último livro que li , ao contrário do habitual, sem interrupção, sem o alternar com outras leituras como habitualmente faço, e de que gostei particularmente, já que com ele aprendi alguma coisa.
“ O percurso do Primeiro Romance” , assim se chama o livro de Jean Michel Barrault, que decidi ler porque o título me induziu em erro, serviu, entre outras coisas, para trazer ao consciente uma noção que já existia no meu subconsciente. Sempre tive uma enorme relutância em ler o que os livreiros expõem em primeiro plano, os livros da moda, aqueles que estão na boca de todo o mundo, que são mencionados por jornais e revistas, e cheguei a pensar que era pura mania minha. Confesso até, que este quase preconceito é responsável por eu não ter lido, ainda, qualquer livro do Miguel Sousa Tavares, (a não ser um infantil que ofereceram ao meu filho) ou da Isabel Allende…
A minha desconfiança relativamente à publicidade é tal, que sempre me afastei dos livros que ocupam demasiado espaço em lugares de destaque de demasiados espaços comerciais (só fui abrindo excepção para autores cuja qualidade reconheço porque conheço a sua obra). Daí este meu gosto pela troca de impressões. O maior estímulo que alguma vez tive para efectuar qualquer das minhas leituras, foi sempre a opinião ou o entusiasmo de alguém em cujo gosto confio mais do que no colorido de capas e escaparates.
Como dizia, este livro, cuja estrutura e estilo são, para mim, completamente novos, agradou-me bastante pela sua originalidade e pelo realismo do seu conteúdo, que numa linguagem por vezes muito elegante, outras muito precisa, quase sempre de uma ironia finíssima, expõe, inteligentemente, de forma romanceada, a hipocrisia em que está, actualmente, mergulhado o mundo da literatura; o mundo dos prémios e honrarias; os modos como são forjados alguns best-sellers; as circunstâncias em que alguns escritores são guindados à categoria de estrelas, ao passo que outros são absolutamente ignorados (não tendo esta eleição por base a qualidade dos seus escritos); o modo como funciona os meandros da crítica literária (os clientelismos, as capelinhas mais ou menos influentes), os lobbies das editoras; o modo despudorado como os livreiros nos conduzem as leituras “ obrigando-nos” a consumir determinadas obras…Enfim, também a arte a sofrer do mal dos tempos, deste mundo economicista e interesseiro em que vivemos e o risco que o artista corre de se tornar um mercenário se se deixar “ seduzir pela palha dos estábulos dourados do mundo” e se não for “ afastando com jeito ou força, todos os obstáculos que se levantam (por exemplo, o [seu] sentido de apetência do cómodo” como tão bem disse Agostinho da Silva.
Mesmo considerando que é um livro muito situado no tempo, que será provavelmente esquecido para sempre dentro de alguns anos, penso que contém, mesmo assim, algumas questões intemporais (o romance fala de si próprio, o escritor fala do escritor, a própria linguagem fala da linguagem, o criador fala da criação). Gostei imenso!
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Sobre a (in)utilidade da ARTE
A aranha, aquela aranha era tão única: não parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos e formas. Havia, contudo um senão: ela fazia-as, mas não lhes dava utilidade. O bicho repaginava o mundo. Contudo, sempre inacabava as suas obras. Ao fio e ao cabo, ela já amealhava uma porção de teias que só ganhavam senso no rebrilho das manhãs. E dia e noite: dos seus palpos primavam obras, com belezas de cacimbo gotejando, rendas e rendilhados. Tudo sem fim nem finalidade. Todo o bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador. Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas distraiçoeiras funções. Para a mãe-aranha aquilo não passava de mau senso. Para quê tanto labor se depois não se dava a indevida aplicação? Mas a jovem aranhiça não fazia ouvidos. E alfaiatava, alfinetava, cegava os nós. Tecia e retecia o fio, entrelaçava e reentrelaçava mais e mais teia. Sem nunca fazer morada em nenhuma. Recusava a utilitária vocação da sua espécie.
- Não faço teias por instinto.
- Então faz porquê?
- Faço por arte.
Benzia-se a mãe, rezava o pai. Mas nem com preces. A filha saiu pelo mundo em ofício de infinita teceloa. E em cantos e recantos deixava a sua marca, o engenho da sua seda. Os pais, após concertação, a mandaram chamar. A mãe:
- Minha filha, quando é que assenta as patas na parede?
E o pai:
- Já eu me vejo em palpos de mim…
Em choro múltiplo, a mãe limpou as lágrimas dos muitos olhos enquanto disse:
- Estamos recebendo queixas do aranhal.
- O que é que dizem, mãe?
- Dizem que isso só pode ser doença apanhada de outras criaturas.
Até que se decidiram: a jovem aranha tinha que ser reconduzida aos seus mandos genéticos. Aquele devaneio seria causado por falta de namorado. A moça seria até virgem, não tendo nunca digerido um machito. E organizaram um amoroso encontro. - Vai ver que custa menos que engolir mosca – disse a mãe.
E aconteceu. Contudo, ao invés de devorar o singelo namorador, a aranha namorou e ficou enamorada. Os dois deram-se os apêndices a dançaram ao som de uma brisa que fazia vibrar a teia. Ou seria a teia que fazia vibrar a brisa?
A aranhiça levou o namorado a visitar a sua colecção de teias, ele que escolhesse uma, ficaria prova do seu amor.
A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para reclamar da fabricação daquele espécime. Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer. Pediram que ela transitasse para humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela, já transfigurada, se apresentou no mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia?
- Faço arte.
- Arte?
E os humanos se entreolharam, intrigados. Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até que um, mais velho, se lembrou. Que houvera um tempo, em tempos de que já se perdera a memória, em que alguns se ocupavam de tais improdutivos afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e os poucos que teimavam em criar esses pouco rentáveis produtos – chamados de obras de arte – tinham sido geneticamente transmutados em bichos. Não se lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que parece.
Mia Couto in O Fio Das Missangas
- Não faço teias por instinto.
- Então faz porquê?
- Faço por arte.
Benzia-se a mãe, rezava o pai. Mas nem com preces. A filha saiu pelo mundo em ofício de infinita teceloa. E em cantos e recantos deixava a sua marca, o engenho da sua seda. Os pais, após concertação, a mandaram chamar. A mãe:
- Minha filha, quando é que assenta as patas na parede?
E o pai:
- Já eu me vejo em palpos de mim…
Em choro múltiplo, a mãe limpou as lágrimas dos muitos olhos enquanto disse:
- Estamos recebendo queixas do aranhal.
- O que é que dizem, mãe?
- Dizem que isso só pode ser doença apanhada de outras criaturas.
Até que se decidiram: a jovem aranha tinha que ser reconduzida aos seus mandos genéticos. Aquele devaneio seria causado por falta de namorado. A moça seria até virgem, não tendo nunca digerido um machito. E organizaram um amoroso encontro. - Vai ver que custa menos que engolir mosca – disse a mãe.
E aconteceu. Contudo, ao invés de devorar o singelo namorador, a aranha namorou e ficou enamorada. Os dois deram-se os apêndices a dançaram ao som de uma brisa que fazia vibrar a teia. Ou seria a teia que fazia vibrar a brisa?
A aranhiça levou o namorado a visitar a sua colecção de teias, ele que escolhesse uma, ficaria prova do seu amor.
A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para reclamar da fabricação daquele espécime. Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer. Pediram que ela transitasse para humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela, já transfigurada, se apresentou no mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia?
- Faço arte.
- Arte?
E os humanos se entreolharam, intrigados. Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até que um, mais velho, se lembrou. Que houvera um tempo, em tempos de que já se perdera a memória, em que alguns se ocupavam de tais improdutivos afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e os poucos que teimavam em criar esses pouco rentáveis produtos – chamados de obras de arte – tinham sido geneticamente transmutados em bichos. Não se lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que parece.
Mia Couto in O Fio Das Missangas
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Os meus escritores preferidos
Porque desistimos de lutar pela nossa dignidade??!!
Há homens que lutam um dia, e são bons. Há outros que lutam um ano, e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons. Porém há os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis.
B. Brecht
B. Brecht
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Aforismos e citações
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
A felicidade exige valentia
” Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar-se um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."
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Aforismos e citações
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