Apesar de não
ter estudado as respectivas estatísticas, os dados que recolho da observação
diária parecem-me inequívocos: Os hábitos de leitura dos portugueses correm
sérios riscos de extinção.
E há livros que é um crime não ler!
E há livros que é um crime não ler!
Depois de uma
tradição oral feita em cinzas, do enterro definitivo do passado e com ele as
respectivas lições; com a desvalorização da história e das ciências humanas em
geral; com o pragmatismo mercenário vigente e a indiferença provocada pelo
oceano de letras e imagens em que se é diariamente submerso e que se não
consegue abarcar, muito menos dominar, deixar que os livros, que reúnem em si
todas as aprendizagens feitas ao longo dos tempos pelos nossos antepassados,
sejam deixados ao abandono até que os consumam as traças, é um crime de lesa
humanidade.
Assisto, perplexa,
a um retrocesso cultural assustador. As tecnologias da informação e comunicação,
próteses fabulosas que o engenho e criatividade humanos inventaram, são de tal
modo atraentes e confortáveis, e exigem tão pouco esforço da parte de quem as
utiliza, que o convite a deixar-se dominar por elas é irrecusável. Quem quer
“perder” tempo a reflectir sobre conteúdos de mensagens simbólicas? A quem,
depois do trabalho, das lides domésticas, da esteticista e do ginásio, do
facebook e da “casa dos segredos”, restam quatro ou cinco horas disponíveis para
gastar com a leitura de um livro pequeno, para, por fim, ainda ter que digerir
o seu conteúdo? Quem encontra hoje vantagem na leitura tranquila e solitária?
Quem valoriza a meditação? Quem se preocupa com questões como o aperfeiçoamento
pessoal ou a elevação espiritual? (Quem é que ainda sabe o valor dos espírito?)
Quantas pessoas restam, que se conservem donas de si próprias e do seu destino
pessoal? E o que é que isso lhes importa?
Estou apostada
em não deixar morrer “os [nossos] mortos talentosos”. Só as lições que deles
recolhemos nos permitem perceber o que se passa à nossa volta e escolher, em
liberdade e responsabilidade. Só as lições que deles recolhemos nos permitem
perceber algo que é demasiado grande e abrangente que não é susceptível de ser
agarrado pela cultura pequenina e imediatista dos nossos dias: Que “no mundo do
eterno retorno cada acto humano tem o peso de uma enorme responsabilidade”.
Na tua biblioteca escolar |
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